terça-feira, 31 de maio de 2011
Malote de Célula - mês Maio/Junho - semana 4
Ester – a posicionada. Es 4:12-14
O rei Xerxes havia destituído sua rainha porque ela não quis comparecer ao banquete real afim de que ele a exibisse para seus convidados. Então, acontece no reino uma espécie de concurso para determinar quem seria a nova rainha. Mardoqueu, o judeu, leva sua sobrinha para participar e ela ganha a posição de rainha no reino de Xerxes.
Neste meio tempo, Mardoqueu se rebela contra as ordens que o obrigavam a se curvar diante de Hamã, o homem mais poderoso do reino depois do rei. Então Hamã planeja exterminar Mardoqueu e todo o seu povo.
É neste contexto que acontece o diálogo entre Mardoqueu e Ester a rainha. “Quem sabe não foi para um momento como este que você chegou a posição de rainha?” é como Mardoqueu questiona Ester. É como Deus nos questiona. Quem sabe a posição que você se encontra atualmente não é a posição que só você poderia ocupar para transformar o mundo?
A primeira consequência de uma vida santa é que santificados nós vemos a Deus (Mt 5:8). Vemos Deus claramente atuando na nossa história e na História. Vemos Deus movendo as peças para que o nome do Filho seja exaltado e reconhecido como nome acima de todo nome. Vemos Deus nos dando oportunidades para que com a nossa vida possamos ser usados por Deus para a salvação da humanidade, dentro das posições em que Ele mesmo nos coloca.
Ester, posicionada, agarra a oportunidade, pois vê o Senhor movendo as peças (através de sua vida) para salvar o seu povo do extermínio. Repare que Mardoqueu era plenamente confiante no seu Deus. O povo seria liberto de qualquer maneira, mas Deus queria usar Ester e cabia a ela aproveitar a oportunidade criada pelo Senhor dentro da posição que ela ocupava.
Seja um oportunista santo. Assuma as posições que Deus tem colocado preparado para que você as assuma. Aproveite as oportunidades que se colocam diante de você para que pessoas sejam abençoadas através de sua vida.
Malote de Célula - mês Maio/Junho - semana 3
Davi – o restaurado. Salmo 51
O rei Davi foi um adúltero. Também foi um homicida. Ele toma a mulher de Urias e a engravida, depois trama para que Urias, que estava em Jerusalém em um intervalo dos confrontos, durma com sua esposa. Urias, homem nobre, nega o pedido do rei, pois prefere ficar com seus soldados e seu superior. Então, como não havia um modo de Davi esconder a gravidez de Bete-Seba, manda colocar Urias em uma posição de batalha que necessariamente lhe custaria a vida.
Adúltero e Assassino.
Porém, homem segundo o coração de Deus (1 Sm 13:14 e At 13:22).
O que faz de Davi ser alguém tão especial aos olhos de Deus, apesar de ter atitudes tão reprováveis tanto aos olhos do Senhor quanto aos olhos do seu povo?
A verdade é que Davi é tão pecador como qualquer um de nós. Não há nada de diferente em Davi e, pode ser, que em seu lugar tomaríamos as mesmas decisões, incorreríamos nos mesmos erros e pecaríamos da mesma maneira.
O que Davi trás dentro de si é o que o diferencia: o coração de Davi é um coração quebrantado. Ele se arrepende. Ele olha para dentro de si e sabe que não é assim que ele deveria ser. Quando sua vida se desloca para fora da vontade boa, agradável e perfeita do seu Senhor, ele sofre e sofre porque é um homem em busca de santidade, apesar de seus inúmeros e nefastos erros.
Por isso Deus o restaura. Deus o perdoa! (1 Sm 12:13).
Restauração é deixar Deus assumir o controle de nossas vidas para que ele possa reparar aquilo que está em mau estado de conservação, aquilo que ao longo da jornada se estragou por causa de nossas próprias atitudes pecaminosas.
Ao lermos o Salmo 51 vimos um homem arrependido, confessando a sua pequenez e sendo restaurado pelo Deus a quem deposita a sua confiança.
A restauração implica em uma vida de arrependimento que desemboca em uma vida de proclamação (Salmo 51:13-15). Uma vida restaurada é uma vida que leva benção para as pessoas a nossa volta (Salmo 51:18 e 19). Por isso, ser restaurado é ser santificado por Deus para uma vida de ação em Seu Reino.
Malote de Célula - mês Maio/Junho - semana 2
Naamã – o curado. 2 Re 5:1-19
Naamã, como disse o nosso pastor, herói nacional, porém leproso. Homem, porém indigno. Guerreiro vencedor, porém um derrotado fisicamente e moralmente.
Sem saber o que fazer, ele dá ouvidos a pequena escrava que lhe diz: “Se o meu senhor procurasse o profeta que está em Samaria, ele o curaria da lepra.”
Mas ao chegar em Samaria, Naamã procura o rei! Quantas vezes nós deixamos de procurar o Deus eterno e liderança constituída por Deus em nossas vidas para procurarmos os “tios e tias espirituais”, os “missionários” de ocasião, os homens e mulheres da moda com seus programas televisivos bacanas.
Mas ao chegar em Samaria, Naamã leva presentes! Quantas vezes nós, libertos em Cristo, mas necessitados do nosso Deus, não tentamos comprar as bençãos do nosso Deus com presentinhos, como se Deus pudesse se dobrar com as nossas lembrancinhas, como se o amor de Deus pudesse ser comprado. Não existem relações comerciais entre nós e Deus. Ele nos abençoa porque nos ama e nós o buscamos porque o amamos e somos amados.
Mas enfim, Naamã chega ao profeta – Mergulhe sete vezes no Jordão. E Naamã se decepciona, ele queria espetáculo espiritual (11), ele preferiria os rios da Síria, que de fato eram muito mais portentosos do que o minguado Jordão (12).
Deus usa caminhos que nós jamais pegaríamos para nos curar. Deus nos confronta e nos cura por inteiro. Sem espetáculo e fantasmagorismo. Naamã foi dobrado em sua soberba nacionalista. Naamã foi curado em sua vergonha moral. Naamã foi curado da lepra, mas acima de tudo foi transformado espiritualmente.
Por fim, Naamã se converte. Leva um pouco de terra samaritana para poder adorar ao Deus Eterno em sua própria terra. A cura, queridos irmãos, nos leva a uma vida santa de adoração. A cura nos coloca na posição de adoradores que tributam a Deus suas próprias vidas. E quantos de nós não precisamos ser curados para que assim, tratados, adoremos ao nosso precioso Jesus por inteiro. Mergulhe no rio que Deus lhe mandar mergulhar. Deixe Deus ser Deus em sua vida e não tente fazer as coisas à sua maneira, porque à maneira de Deus, muitas vezes pode ser incompreensível e absurda, mas é, sem dúvida, o único caminho para a cura integral.
Malote de Célula - mês Maio/Junho - semana 1
Gadareno – o liberto. Mc 5:1-20
Temos aqui a história de um homem sem nome. Um homem que levou Jesus de Nazaré a ir ao seu encontro única e exclusivamente por amor à sua vida. O Gadareno era alguém completamente dominado pelo diabo. Um homem possesso, entregue por inteiro à pata suja e nojenta de Satanás.
Mas Jesus o amou. Jesus o encontrou em meio a total degradação física, moral e espiritual. Jesus não manteve-se indolente, porque o Nosso Senhor nunca é insensível à dor de um ser humano.
No texto, lemos que nada que os homens faziam para tentar domar aquele homem possuído tinha eficácia. As correntes eram quebradas, o ferro era vencido, a força humana era humilhada. Nada era suficientemente forte para conter o poder de Satanás sobre aquela vida.
Nada menos o amor de Deus para conosco.
Jesus liberta o gadareno totalmente. Sua obra não é nunca feita em partes, ao contrário, tudo aquilo que é tocado pelo Nazareno é plenamente refeito para a glória do Pai pelo poder do Espírito (15).
Interessante é que Jesus não permite que o gadareno o siga. Isto é mais que um detalhe do texto, é uma lição para as nossas vidas. Jesus o chama para que ele fique! E fique para a pregação do Evangelho transformador (18, 19, 20). Toda libertação desemboca em uma vida santa de proclamação da Palavra!
Busque a santidade, peça a Jesus que o liberte daquilo em que o diabo tem colocado a mão imunda dele. Confesse os seus pecados para a sua liderança. Você será liberto! E liberto será boca de Deus neste tempo de desafios tão tremendos.
terça-feira, 24 de maio de 2011
O crânio de Niterói e os armários de minha vida.
Um crânio humano entre o teto e o gesso!
Como aquilo havia parado ali? era o que os peritos chamados pela polícia estavam se perguntando.
Voltei para Campos, mas o crânio continuou na minha mente. Aquele crânio já, em algum momento da história, havia sido a cabeça, ou pelo menos parte dela, de alguém. Já havia sido coberto de carne, músculos, já abrigara parte significativa do sistema nervoso de alguém. Alguém sorrira com aqueles dentes. Pele o cobrira. Orelhas em cada lado. Cabelos.
Mas agora o crânio estava ali, entre o teto e o gesso. Escondido do mundo. Esquecido pela história. Algum corpo jaz em algum lugar desconhecido sem a sua cabeça.
Então eu pensei nos meus armários. Nos arquivos escondidos de minha vida. Naquilo em que eu deposito as minhas ossadas, dia após dia.
Todos nós temos armários. Todos nós temos gavetas. E todos nós, por mais estranho que isso pode parecer, temos escondido em algum lugar ossadas que denunciam nossa vida.
Todos.
Eu e você.
Temos segredos, coisas que não mostramos para ninguém, coisas que nos envergonhariam se alguém sequer ventilasse isso.
O fato é que mais cedo ou mais tarde o gesso se quebra e nossas vergonhas são expostas. Senão para as pessoas à nossa volta, sem dúvida alguma para o nosso Deus, que tudo conhece. Feridas precisam ser tratadas e não escondidas. Quem se esconde perde o privilégio de ser cuidado e sarado.
Expor-se é se colocar diante de Deus em total nudez espiritual, é abrir os armários e deixar Deus limpá-los, tirar as ossadas escondidas, retirar o mofo, a poeira, a tralha que carregamos ao longo da existência.
Temos que fazer o movimento contrário de Adão e Eva, que ao pecarem se vestiram com folhagens tentando esconder a sua própria desgraça. Nós, em Cristo temos o dever santo de mostrar as nossas chagas ao Supremo Pastor de nossas vidas. Nos expor para Deus é o princípio de nossa cura total.
Aconselho você a procurar ser pastoreado por homens de Deus. Tenha discipuladores, amigos e irmãos espirituais que possam te ouvir, orar por você e com você porque quando confessamos os nossos pecados para sermos curados.
Mas faça essas escolhas com cuidado, lembrando-se sempre que quando mais importante um assunto for menos pessoas têm que ficar sabendo.
Não saia por ai dando as chaves do seu armário. Você se arrependerá amargamente. Entregue-as para Jesus, o cuidadoso Jesus, e Jesus usa pessoas.
Deus nos abençoe e limpe nossos armários.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
A resposta cristã ao sofrimento humano
Andei pensando e encontrei pelo menos quatro supostas origens para o sofrimento humano: o imprevisível imponderável, o sofrimento causados por terceiros, o auto-afligido, e por fim o causado por forças antagônicas ao que cremos ser o único e verdadeiro Deus, o que você provavelmente deve conhecer como demônio.
O primeiro deles parece-me não ter origem em nada. Ou melhor, em nenhum ente inteligente que propositalmente nos intenta algum mal. Por exemplo, as doenças cromossomáticas como as síndromes de Down, Turner ou Klinefelter. Ou ainda as doenças neurodegenerativas, progressivas e letais muitas vezes, como a doença de Lou Gehrig, que pode ter origem genética, mas que a ciência ainda parece não ter certeza de sua causa.
Há ainda terremotos, maremotos, acidentes aéreos fatais que ocorrem porque uma ave foi tragada no ar pela turbina de um Boeing. Ou quem sabe um meteoro que cai sobre uma casa, um vulcão que consome uma vila em sua fúria, uma corrente marinha mais forte que te afasta da costa levando ao afogamento do banhista (quase morri nessa). Não há negligencia, não há imperícia nem imprudência.
São coisas que acontecem, e que nos causam sofrimento, apesar de não termos ninguém em quem colocar a culpa.
Em seguida sofremos pela maldade de terceiros. Não precisamos ir longe para vermos isso bem de perto. Pessoas esquartejadas e lançadas a cães? Crianças lançadas de janelas de apartamentos? Holocausto (mais de seis milhões de pessoas morreram), Gulags soviéticos (mais de um milhão de seres humanos morreram), Darfur, Cruzadas, Inquisições, guerras, guerras, guerras... milhares delas.
Milhões de vidas desperdiçadas em nome da maldade, da ganância, da busca inescrupulosa pelo poder.
Pessoas de classe média são sequestradas para terem seus salários sacados em caixas eletrônicos e entregue à bandidos, são os sequestros relâmpagos. Moradores de favelas ficam sob a mira de uma polícia alucinada contra traficantes bem armados.
Exploração sexual de crianças. Trabalho infantil.
Seres humanos sendo maltratados porque são gordinhos. Seres humanos sendo mal tratados porque são idosos. Seres humanos sendo maltratados por serem diferentes da maioria.
A lista de perversidade que um homo sapiens é capaz de produzir é muito grande. Paro por aqui na certeza que você já deve ter entendido aonde quero chegar.
Ainda há o sofrimento que nós causamos a nós mesmos. Não apenas por um sadismo patológico, mas por fumarmos durantes anos e termos de conviver com enfisemas e câncer mais tarde, por exemplo.
Ou você que mente para si mesmo tentando construir uma vida que sabe não te pertencer, como os que chegam a passar fome em nome da vaidade. Ou quando colocamos nosso próprio corpo à venda em troca de dinheiro ou prazeres fugazes.
Só você sabe como você coloca sua cabeça no travesseiro.
Nós, que atiramos no próprio pé, dia após dia.
Por fim, há a ação direta do próprio demônio. Porque reconheço que existem doenças que não são causadas por vírus ou bactérias. Existem pessoas completamente dominadas por forças malignas. Pessoas que normalmente se deixam dominar, que se consagram e dão liberdade para que a ação demoníaca seja livre em suas vidas.
E eles se aproveitam disso. Sem piedade alguma.
Se bem que não duvido que quando um ser humano, em sã consciência atira no crânio de outro ser humano, seja pelo motivo que for, ele pode estar não só agindo pela própria maldade, mas também sob a influência de forças do mal.
(Não precisa-se estar endemoninhado para estar sob a influência, ingerência e ação do diabo.)
Mas, e a resposta cristã? E a resposta de Deus à todo este mar de sofrimento sem fim?
Como eu havia dito ontem, contra qualquer sofrimento, tenha ele a causa que tiver, a resposta é sempre Cristo.
Sempre.
E Cristo Jesus, neste mundo, age, preferencialmente à partir de seu Corpo Vivo nesta terra, à partir de pessoas que estão debaixo de seu senhorio. Chamamos o conjunto dessas pessoas de Igreja, apesar de que a palavra "igreja" ao longo da história tenha ficado completamente manchada por pessoas que à ela pertenciam, mas estavam muito, muito longe do senhorio do Senhor da Igreja, o Cristo.
Contra o imponderável imprevisível temos que ser presença de misericórdia, de amor, consolando e abençoando àqueles que sofrem à despeito de sua vontade. É o nu sendo vestido, o faminto sendo alimentado, o desabrigado sendo acolhido, é a Criação sendo protegida por nós.
Quando os maldosos agem no mundo, a Igreja tem que ser a voz da justiça, os denunciando ao mesmo tempo que os pregando o perdão.
Paradoxal? Claro! Absurdo? Certamente!
Estamos de frente ao mais lindo no Evangelho. O Reino de portas abertas para todos, desde o mais cruel e frio ao mais mansinho e inofensivo ser humano. Todos se afastaram de Deus, disse Paulo, todos são bem-vindos, disse Jesus. Ele veio para os enfermos, para os maus, afim de torná-los bons.
Morreu por isso. "Pois, morreu a nossa morte pra vivermos sua vida", como diz uma antiga canção.
É o Espírito Santo transformando a consciência do majestoso homo sapiens.
Quanto à você e eu. Pessoas como nós, que temos uma tendência auto-destrutiva, a resposta como sempre é o Cristo. Só Ele e mais ninguém. É a ação de Deus nos convencendo de toda cagada que insistimos em fazer contra nós mesmos. Arrependimento é a melhor palavra para um parágrafo como esse.
E arrependimento é a melhor crise que um homem pode ter. É ele se olhando no espelho e vendo quão imunda está a sua imagem. É a crise que nos salva de nós mesmos, para que assim, busquemos ao Cristo que nos transforma, nos moldando novamente à sua imagem e semelhança.
Por fim, os demônios. Sobre eles, vale o que o próprio Jesus Cristo disse. Temos autoridade. Em comunhão com Deus, vivendo uma vida digna diante do Pai, uma vida de oração, jejum, leitura e meditação nas Escrituras, não precisamos mais ficar de blablablá com o capeta. O lugar dele não é no palco e não é o superpoder de uns e outros que vai debelar aquilo que ele possa estar fazendo à vida humana.
Estando alguém endemoninhado, converse com Deus, e expulse o demônio na autoridade que há no nome de Jesus Cristo, e de mais ninguém.
Se o demônio atua por meio de uma enfermidade, expulse-a em nome de Jesus. Se a enfermidade atua por meio de um agente patológico, leve o seu semelhante ao médico.
A resposta cristã ao sofrimento é o Cristo, geralmente agindo através de gente como eu e você. Gente cujo o Espírito Santo atua com liberdade.
Espero ter conseguido jogar um pouco de luz sobre um assunto tão sombrio.
Amém
(Agradeço a gente como Ed René Kivitz, Charles Anthony, John Piper, Ariovaldo Ramos pela boa e fundamental influência)
domingo, 8 de maio de 2011
O presente divino da maternidade
Quando Adonai disse a Serpente em Gênesis capítulo 3, versículo 15, que poria inimizade entre o tentador e a mulher e entre sua descendência e a descendência dela, dizendo por fim que embora a Serpente viesse a ferir o calcanhar do Filho da mulher, este mesmo Filho lhe feriria a cabeça, Ele estava resignificando toda a maternidade, como disse o Pr Ariovaldo Ramos. Daquele momento em diante toda gestação seria um sinal de esperança da vinda e vitória do Messias.
É neste contexto que Jesus de Nazaré adentra a história, pelo poder do Espírito Santo, através do ventre da menininha de Judá que carregava dentro de si o “sim” de Deus para todas as Suas promessas (2 Co 1:19, 20). Maria, menina e mãe, que embala o sono do Deus Encarnado em uma estrebaria suja de Belém, trás no colo o modelo de ser humano, o Salvador dos povos, o Senhor do Cosmos.
Assim, toda a gravidez precisa ser celebrada no seio da Igreja, Igreja que se funda sobre a Rocha Eterna, que é o Filho do homem, pois uma mulher grávida carrega consigo não apenas um ser da mesma espécie. Muito mais do que mera biologia, tem a maternidade um sentido lindo e profundo, pois quem trás em seu ventre um ser humano, carrega alguém criado para ser redimido pelo Senhor, que esteve por nove meses no ventre daquela judiazinha na Palestina.
A maternidade é a forma encontrada por Deus para que crescêssemos e nos multiplicássemos. A maternidade é o desenho inteligente do Senhor para que a humanidade celebre o dom da vida, dado por Ele mesmo, de uma maneira cândida e bela.
Em um mundo em que contemplamos mães jogando seus filho na lixeira, peçamos a Deus que cada vez mais nos dê consciência do grande presente divino da maternidade. E que o Senhor abençoe e coloque a Sua mão amorosa sobre todas as mães de nossa Igreja e do mundo, para que elas saibam receber suas condições de vida, enquanto mães, como quem recebe uma grande e maravilhosa benção do Senhor.
Pr Carlos Magalhães
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Teologia das Cores
“E se amanha, as massas tiverem a impressão de que o cristianismo teve medo, que não teve coragem, de dizer a verdade, de mostrar a verdade, então, acabou-se o cristianismo.” Dom Hélder Câmara
Ir à casa do meu avô é sempre uma experiência linda.
Olhar suas paredes largas, brancas, com seus janelões cor de vinho, propositalmente confeccionados para que parecesse uma casa colonial portuguesa. No meio do pátio, há uma árvore que a tudo sombreia com suas milhares e milhares de folhinhas verdes e minúsculas. No chão, é sempre possível ver o que restou das migalhas de pães que há alguns minutos atrás fartaram a fome de pelo menos uma dezena de pardais amarronzados.
Certo dia me sentei ao lado do meu avô. De braços dados. Sua pele morena, seus dentes amarelados, seu rosto sulcado pelos anos que passam sem parar. Lhe pedi que me falasse um pouco sobre Jesus. Um pouco sobre o Espírito Santo.
Tudo muito simples. Tudo muito colorido.
Jesus de Nazaré, nos disse a toda a humanidade: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”
Não sou físico, nem tenho a pretensão de explicar os porquês da relação entre luz e cores. Mas uma coisa é simples demais para deixar de ser mais ou menos explicada. De algum modo a cor de um objeto é o resultado da absorção de demais cores e a não absorção da frequência de onda daquela determinada cor que ele tem.
Não vou mais me aventurar na ciência que eu não entendo. Mesmo, porque, provavelmente, a explicação acima esta, no mínimo, rala. Apesar disso, ela serve para ilustrar o que preciso me fazer entender.
De alguma maneira, a luz colore a vida. Sem luz, só haveria escuridão.
Um mundo sem cores.
Sem o amarelo da manga madura cortada para comer, sem o verde dos canaviais docinhos, prontos para açucararem o branco creme de leite, que em cima dos morangos vermelhinhos nos servem de sobremesa, mas que antes nos alimentam os olhos.
Sem a luz, não contemplamos a beleza do mundo. A pele negra do africano que se veste com tantas cores para celebrar a vida. As cores dos vasos de porcelana chineses. Os multicoloridos cocares dos nossos índios. As telas revolucionarias de Van Gogh.
Mas também sem a luz, nos tornamos cegos para o que de cinza há no mundo. Para a fome que bate nos vidros de nossos carros nos sinais de todas as grandes cidades brasileiras. Não vemos as trevas da religiosidade financeira que tira do povo o dinheiro de sua subsistência. Não conseguimos enxergar a realidade da maldade que nos rodeia de perto, muitas vezes cegando o nosso próprio coração.
A luz nos revela a verdade.
A verdade da beleza que está escondida muitas vezes sob as sombras que o mal teima em sombrear. A verdade da tristeza que o mal teima em acinzentar.
Mas, Jesus é a luz.
Quem O segue terá a luz da vida.
Foi Ele mesmo quem disse, no famoso Sermão do Monte, que nós, que o ouvíamos e praticávamos Suas palavras, eramos a luz deste mundo.
Luz para iluminar. Para revelar as cores da beleza e denunciar o cinza dos lugares que ainda não foram alcançados por essa Luz, que é Jesus.
Encontrando o nosso lugar em Deus, e todas as cores à nossa volta se tornarão mais nítidas
A Prainha, em Arraial do Cabo, tem o mar mais lindo e azul que eu já pude ver. Mas para alguém que não enxerga, não importa se aquela água é límpida ou não. Ela será gelada e salgada como a maioria dos mares desta costa do Atlântico.
Em Deus, a beleza da vida estará sempre ao alcance de nossa contemplação. A tristeza, por sua vez, estará ao alcance para a nossa intervenção.
As cores da existência, no final das contas, que nos revelam tantas verdades, que não seriam reveladas se não estivessem sob a Luz que é Jesus, Luz do mundo, Luz no mundo, Luz para o mundo, nos levam à ação.
As cores nunca nos tornam passivos diante da vida.
Ou as contemplamos por sua beleza.
Ou na vida intervimos, com aquarela na mão, fazendo do cinza, algo verdadeiramente belo. Verdadeiramente iluminado. Eternamente colorido.
Pr. Carlos Magalhães
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Epitáfio para o senhor Osama Bin Laden
Isto que dizer que creio em Jesus de Nazaré.
Creio em Jesus de Nazaré não apenas como uma personagem da história humana, ou como um exemplo de mestre espiritual, ou como um grande profeta que trouxe ao mundo conhecimentos indiscutivelmente preciosos. Crer em Jesus de Nazaré é muito mais do que acreditar nele como algo importante em que devemos depositar nossas esperanças e sentimentos.
Sou cristão, portanto creio em Jesus de Nazaré como o Messias que deveria vir ao mundo para salvar o mundo de si mesmo.
Jesus é maior do que qualquer declaração feita à seu respeito. Jesus de Nazaré é o homem como o homem deve ser. E por ser cristão eu tento, muitas vez em vão, contempla-lo em sua humanidade e imitá-lo.
Osama Bin Laden não era cristão.
Jesus de Nazaré não era alvo da adoração de Osama Bin Laden. Talvez para o saudita, Jesus de Nazaré fosse apenas um grande profeta, mas nada muito além disso.
Hoje, ou ontem de madrugada, Osama Bin Laden foi morto por tropas da marinha norte-americana em uma missão secreta no Paquistão.
E hoje, e provavelmente por algum tempo, a maior nação cristã do mundo está nas ruas de suas grandes cidades comemorando a morte do incrédulo Osama Bin Laden.
Me perdoem, mas eu não tenho muitas coisas para dizer sobre Osama Bin Laden. Nunca o conheci pessoalmente e todas as obras que ele atribuiu a si próprio e à sua rede de atuação religiosa-terrorista são repudiadas completamente por mim e por qualquer pessoa um pouco sensata.
Osama Bin Laden foi o responsável pela morte de milhares de pessoas. E tudo o que ele fez em vida pode (e deve) ser completamente condenado.
Mas antes de sermos vítimas das insanidades de Osama Bin Laden não podemos jamais nos esquecer que somos cristãos. E agora eu me refiro tanto a mim quanto a todas as pessoas que estão nas ruas celebrando a morte de Osama Bin Laden.
Me desculpem, mas se existe uma coisa que os Estados Unidos da América não são é uma nação cristã.
Simplesmente não podem ser considerados cristãos aqueles que tomaram as terras indígenas à força, matando milhões de seres humanos. Não pode ser considerada cristã uma nação que matou cerca de um milhão e cem mil pessoas em uma guerra covarde como a guerra do Vietnam. Não pode ser considerado cristão o povo que fomentou o racismo durante séculos dividindo homens e mulheres, iguais perante o Deus dos cristãos, por causa da cor de suas peles.
Me desculpe, mas não podem ser considerados cristãos, pessoas que saem as ruas para celebrar a morte de outro ser humano. Não importa quem seja este ser humano.
Sou cristão. Por isso me compadeço com todas as vítimas das insanidades do senhor Osama Bin Laden.
Sou cristão. Por isso tenho a plena convicção de que quando tropas "cristãs" que representam o "mundo livre" mataram Osama Bin Laden, Deus no céu, debulhou-se em lágrimas.
Depois da morte de Jesus de Nazaré, que padeceu sob um homem tão poderoso quando qualquer secretário de estado norte-americano hoje, ninguém mais deveria morrer.
Jesus manda que perdoemos os nossos inimigos. Perdoemos com todo o nosso coração a qualquer Osama Bin Laden que apareça em nossas vidas.
Quem celebra a morte crucifica Jesus de Nazaré novamente dentro de si.
Por isso que eu sou cristão, como Tertuliano, pois tudo isto que eu escrevi parece (inclusive para mim, admito) um grande absurdo.
Mas Deus, em seu absurdo amor, amava o senhor Osama Bin Laden com toda a força que o amor é capaz de amar. E hoje, o céu está em luto, porque um ser humano, criado para ser imagem e semelhança de seu amoroso Criador, morreu.
Pr. Carlos Magalhães
sábado, 30 de abril de 2011
Ame Campos
"Orem pela paz de Jerusalém" Salmo 122:6a
Hoje o véu o templo, que separava o Santo dos Santos (e com isso a própria presença de Adonai) se rasgou quando Jesus de Nazaré deu o seu último suspiro de vida entregando-se para a morte.
Com o advento do Pentecostes a presença do Espírito de Deus, da glória de Deus, a Sua Shekinah, agora habita dentro do homem liberto do pecado. Habita dentro do Santuário feito pelo próprio Deus. Ele não habita em templos feitos por mãos humanas, mas habita em nós, Seus filhos, feitos filiação no Filho Único.
Isso me leva a uma pergunta: Qual é a nossa Jerusalém?
Porque a Jerusalém dos judeus continua no Oriente Médio, sendo palco de conflitos entre povos que nunca se entenderão. Por outro lado, aonde está a nossa cidade santa, a nossa Jerusalém pessoal, onde Deus habita com a Sua glória, já que habita em nós?
Pois bem, nós, Segunda Igreja Batista na cidade de Campos dos Goytacazes, temos nesta terra goytacá a nossa Jerusalém sagrada. É aqui o primeiro alvo de nossa preocupação social, nossa compaixão, nossa caridade e absolutamente, de nosso amor.
Amar a cidade de Campos é amar o nosso lugar de morada. É amar o nosso lar. As cidades são as moradas dos homens e Campos é a nossa morada, o espaço político e geográfico dado por Deus para que zelássemos por ele.
Temos com a nossa cidade uma dívida eterna, uma dívida de amor. Este é o princípio cristão da mordomia, em que tomamos conta com zelo e carinho daquilo que Deus colocou em nossas mãos nesta vida.
Como temos lidado com a cidade de Campos? Com seu povo e sua cultura?
Devemos ser os primeiros a amar esta cidade e seu povo, amar sua cultura e rogar ao Senhor para que redima tudo aquilo que não lhe pertence para que este pedaço de terra seja um solo abençoado.
Amar Campos nos é imperativo, não é algo que podemos escolher ou não. Se estamos com os pés cravados aqui é-nos obrigatório que ao lado nos nossos formosos pés esteja cravada também a cruz do Calvário.
Ame a sua Jerusalém! que hoje atende pelo nome de Campos dos Goytacazes.
Deus o abençoe,
Pr. Carlos Magalhães
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A relação entre riqueza e espiritualidade
É simples.
Você precisa ser treinado financeiramente para crescer espiritualmente e não ser treinado espiritualmente para crescer financeiramente. Está aí a relação bíblica que [quase] ninguém quer de fato saber. Porque para a maioria daqueles que associam espiritualidade com dinheiro, Deus é o nome que eles dão ao seu deus Mamon. Só não chamam de Mamon, mas sim de “deus”, como o nosso Deus também chamamos “Deus”.
O Capital é um bom deus. Ele é humilde, não fala, não dorme, também não se cansa. Está sempre pronto a nos satisfazer e nos ouvir. Como toda boa divindade, ele também apresenta as suas condições em ter-nos como bons fiéis. O Capital exige proteção. Nisto este deus nos deixa em total confusão, porque serve-se à um deus incapaz de proteger-se. Ele nos protege, nos fornece a tranquilidade de uma noite de sono velada por qualquer espécie de aparato de segurança que o dinheiro pode comprar [e ele pode comprar toda], mas exige que cuidemos dele como não cuidamos de mais ninguém.
Este deus tem seus templos, aonde ele habita em plenitude e em segurança. Desde carteiras da Louis Vuitton à Fundos de Hedge. É um deus sem fronteiras que tornou-se muito mais do que uma simples entidade territorial. Ele está em São Paulo, em Frankfurt, em Wall Street, ao mesmo tempo. Sim, em muitos sentidos ele é onipresente.
Quando o Deus de Israel diz que não divide a Sua glória com ninguém, o deus dinheiro não quer glórias para si, ele não precisa. Ele quer que seus súditos, sim, sejam glorificados através de carros bacanas, camisas de marca, relógios de milhares de reais. O deus dinheiro é um deus sem glória, porque ele dá glória a quem o tem como deus, e em troca exige adoração. Uma adoração sem glórias, diga-se de passagem.
Mas adoração nada mais é do que imitação. Quanto mais adoramos a Cristo, mais parecidos ficamos com ele. Quanto mais adoramos ao dinheiro, mais parecidos ficamos com aqueles que tem mais dinheiro do que nós.
O Capital é um deus frágil, porque a qualquer momento ele troca de mãos, ou pior evapora no ar com mega desvalorizações cambiais em estouro de bolhas imobiliárias.
Ter dinheiro é ruim?
Não!
Se você não quiser ter dinheiro algum e dar tudo para os pobres, muito bem. Se você quer ser um bem sucedido empresário do ramo de exploração de diamantes de metais preciosos, muito bem também.
O problema não é o dinheiro, meu amigo. O problema sempre foi e sempre será você.
Enquanto o dinheiro estiver na posição de seu serviçal bastardo, ótimo. Porque depois que ele assume a forma de deus dentro de você, então o serviçal bastardo será você.
Há pessoas que preferem ser serviçais bastardas e comerem caviar, bebendo champanhe em um iate de cinquenta pés.
Há pessoas que preferem serem mordomos de seus recursos os submetendo ao único Senhor realmente digno desta alcunha: Jesus.
Se você quer ser discípulo de Jesus tendo o dinheiro como seu deus, me desculpe, volte outra hora, quando você tiver resignificado isso em sua vida. Ou o Capital ou Jesus.
Por isso eu disse que você precisa ser treinado financeiramente para crescer espiritualmente. Não estou falando em cursinhos nem em livros do tipo “Os 5 passos para prosperar com Jesus”. Nada dessa bobajada cretina. O verdadeiro treino é você se desapegar, dando uma parte do que você tem para aqueles que não tem, como por exemplos os pobres de sua cidade. O verdadeiro treino, Jesus propôs ao jovem rico: “vá vende tudo que tens, dê aos pobres e segue-me”
Repare que Jesus não manda dar o dinheiro no Templo, nem aos sacerdotes, nem aos padres, nem aos pastores. Ele disse DÊ AOS POBRES. Dê para quem precisa de verdade. Nada de fogueiras “santas”.
Boa sorte.
Amem
Pr. Carlos Magalhães
PS: Estou com medo de que tenha ficado no ar algo do tipo que só aqueles que têm recursos, os ricos, é que são os verdadeiros adoradores do dinheiro. Não é preciso ter dinheiro para ser escravo dele. É preciso apenas ter um coração e entregá-lo ao dinheiro, assim como muitos entregam o seu coração a Deus.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Acenda o Farol! - primeiras palavras sobre ser Igreja
Enquanto comunidade, somos a comum unidade daqueles que se reunem em assembléia para adorar o Deus a quem chamamos Pai, ao Filho que sabemos ser Jesus e ao Santo Espírito que se mostra a nós como o grande companheiro da jornada cristã.
Somos a Assembléia de Jesus de Nazaré, o Messias. Somos a Ekklesia de Deus. Nos unimos uns aos outros como um braço se une ao tronco, através de juntas e ligamentos elaborados pelo próprio Deus.
Mas ainda assim, quem somos nós? Não no sentido de definirmo-nos enquanto conjunto de pessoas, mas sim no santo sentido de nos estabelecermos existencialmente diante de Deus e, consequentemente, diante de toda a Criação.
Me arrisco a dizer que somos o grande sinal. O sinal de que Deus não apenas existe, mas amorosamente interage com a Criação querendo se estabelecer como soberano sobre todos os patamares da vida, em especial da vida humana.
Deus habita no Seu povo atráves do Espírito Santo e habita no mundo através do Seu povo. Daí para frente é que fazemos qualquer eclesiologia. Um povo que nega a sua condição existencial de ser presença e presente de Deus no (e para o) mundo é um povo que se nega diante do próprio Deus.
Isso é seríssimo.
Ou nos colocamos na posição correta, como verdadeiros sinais do Reino de Deus, ou melhor, como um verdadeiro altar erigido por Jesus de Nazaré, para que todos os homens contemplem, a partir de nós, tudo o que se chama Sagrado. Ou então acabamos prostituindo as nossas próprias vidas, nos deixando levar por questões outras que levam sombras à nossa vocação maior, a vocação de sermos o grande sinal de Deus no planeta.
É uma questão de escolha. O que também implica dizer que é uma questão de posição a ser tomada primeiramente diante de nós mesmos. Deus já nos outorgou esse santo ofício. Não precisamos sequer orar acerca disso, Ele já mandou, nos resta obedecer.
Até porque, enquanto instrumentos nas mãos do Senhor, não temos muitas opções aqui. Ou seremos sinais, ou estaremos como uma cidade em total escuridão, apesar de já estarmos edificados sobre o monte.
Deus o abençoe profundamente.
Pr. Carlos Magalhães
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Ensaio sobre a vocação pastoral
O homem que escreveu este verso, chamava-se Davi. Ele foi pastor em sua juventude.
Quando ele ainda estava na lida do campo que Deus o chamou para o grande e real mister de ser o rei de Israel.
Davi sabia exatamente o que ser pastor significava. A dureza de seu dia-a-dia o ensinou isso.
Não há glamour em ser pastor.
Os holofotes nunca estiveram sob este homem do campo. Pastor era o homem pobre, que tomava conta de um rebanho de ovelhas.
Só isso, e nada além disso.
É ele quem as leva, as suas ovelhas, ao encontro do bom alimento, vela o seu sono, zela por sua saúde, está sempre sendo maltratado pelo sol que queima o rosto ou pelo frio que fere a pele, enfrenta a fúria das feras e a maldade dos ladrões - o pastor vive e arrisca a vida pelas ovelhas.
A ovelha é o sentido de ser do pastor.
Pastor era, para o salmista, este homem que vivia na simplicidade de sua árdua e solitária vocação.
Interessante pensar em Davi olhando sua vida, suas experiências e chegando a esta conclusão tão singela: Deus, o Senhor Todo-Poderoso, Criador dos céus e da terra, é pastor.
O pastor Davi chamando Deus de pastor, inspirado pelo Espírito, traz ao nosso coração a certeza do Deus maravilhosamente humilde que temos. O Deus singelo que veio ao campo, por amor à nós. O Deus amante que, mesmo sendo merecedor de toda glória, faz de suas ovelhas, participantes de sua própria vida.
Deus protetor.
Deus zeloso.
Deus pastor.
Estou em um especial momento de minha vida. Um momento de reflexão acerca desta vocação que ainda me é tão estranha. Ela está repleta de desafios que eu, pessoalmente não me vejo em condições de enfrentá-los.
Mas foi o Pastor Paulo, o Apóstolo, que disse que não havia ninguém digno para esta tarefa. E isto me enche de paz. Não só porque tenho consciência de que sou indigno, mas também que o trabalho pastoral nunca é individual. Afinal de contas, no Novo Testamento, a palavra “pastor” só é usada para referir-se a uma pessoa: Jesus de Nazaré, o Bom Pastor.
Olho para o trabalho pastoral, não apenas como trabalho, mas como parte do caráter de Deus derramado no meio dos homens.
Ser pastor não é um título que me deram para que eu pudesse ser chamado com mais pompa. Nem uma palavra que eu usaria à frente do meu nome para me diferenciar diante dos meus iguais.
Ser pastor é antes de tudo uma condição existencial. Eu existo enquanto pastor. Isto é o que faz da minha vida, uma vida cheia de sentido. Então só me basta existir para cumprir a minha vocação.
As ovelhas, são dEle, e as que Ele tiver como parte de seu cuidado para com elas, me colocar como zelador, assim Ele fará.
Mas, uma coisa é mais certa do que tudo. Tenho que respirar como pastor, andar como pastor, comer e beber como pastor, viver como pastor, não com uma capa religiosa, mas como uma forma de existir.
E a vocação pastoral, transcende a simples vocação profissional. Ela é uma mistura inexata do senso que o vocacionado tem em sua consciência de que é fazendo este trabalho que trará sentido à vida, mas este senso está alicerçado não (apenas) em uma habilidade natural, ou uma grande vontade, mas antes de tudo em um “chamado”.
Em algum momento de minha história eu ouvi: “Carlos, apascenta as minhas ovelhas”. E tudo à minha volta começou de uma maneira independente de minhas próprias construções existenciais a girar em torno disso.
Chamado é isso. É você existir a partir daquele chamado.
Foi assim com Paulo, Pedro, Agostinho, Francisco de Assis, Thomas Merton, Ambrósio, Spurgeon, Hélder Câmara, Wesley, Tereza de Cálcutá, além dos milhões e milhões de piedosos que não estão com seus nomes na História, mas pastorearam o rebanho de Deus, nas lavouras, nas salas de aulas, nos consultórios dentários, nos escritórios, atrás dos balcões, e também (por que não?), nos púlpitos das comunidades eclesiásticas.
domingo, 24 de abril de 2011
O Domingo de Páscoa
Passagem do anjo da morte sobre os lares dos judeus, que escravos no Egito, ungiram os umbrais de suas casas com o sangue do cordeiro que fora imolado e feito refeição simbolizando a união daquele povo com o seu Deus.
Páscoa é passagem.
Passagem do anjo da morte que matou os primogênitos de toda a terra do Egito. Primogênitos de homens, primogênitos de animais.
Passagem que passa por cima daqueles que clamaram por libertação.
"Disse o Senhor: 'De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, e também tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso desci para livrá-lo das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem.'" (Ex 3:7-9)
Não existe Páscoa sem o clamor de um povo e o ouvir do seu Deus.
Páscoa é passagem.
É a passagem da morte sobre todos nós que nos encontramos povo de Deus em Cristo Jesus. Nos encontramos mortos para a morte porque de Jesus recebemos uma mais preciosa e verdadeira vida.
Páscoa é passagem.
Mas apenas passagem sobre nós. Porque o anjo da morte passou através de Jesus de Nazaré, matando-o, fazendo dele o nosso Cordeiro, Cordeiro de Deus. E é o sangue de Jesus que hoje passamos nos umbrais de nossa vida, de nosso coração e do mundo onde nos encontramos.
Pelo sangue de Jesus somos encontrados salvos da morte. Morte certa e justa, porque deveríamos de fato morrer, pois o pecado que nos dominava apontava sempre para a sentença capital.
Mas sentenciado foi Jesus.
Em seu lugar.
Em meu lugar.
Agora Jesus é a nossa páscoa. É ele quem impede que a morte nos alcance definitivamente. E isso porque ele não apenas morreu tomando o nosso lugar, antes ressuscitou dentre os mortos explodindo em vida tudo o que se nomeia morte.
A morte nunca mais terá a palavra final. Cristo vive! e não vive apenas em nossos corações, claro que não! Ele vive na história, na existência, em todas as dimensões de espiritualidade, Ele vive verdadeiramente porque venceu a morte.
Jesus está vivo. E é isso que pauta nossa esperança, a esperança de que a morte jamais nos alcançará definitivamente. Neste sentido, para nós, os que estamos em Cristo, Páscoa é sempre libertação para a vida. Seus clamores chegaram aos ouvidos de Deus, meu querido irmão. E o Cordeiro de Deus morreu em seu lugar, mas está vivo, muito vivo, para assegurar que a sua liberdade ultrapasse as cadeias do último inimigo de nossas vidas, ou seja, o fim da vida.
Jesus está vivo! O dom da vida é real e eterno!
Deus o abençoe poderosamente.
Feliz Páscoa!
Pr. Carlos Magalhães
sábado, 23 de abril de 2011
O Sábado de Aleluia
Talvez tenhamos diante de nossos sonhos e projetos a melhor oportunidade para colocarmos mais uma vez em pauta as promessas que Deus nos fez ao longo de toda a nossa caminhada de fé.
Talvez o dia de hoje, melhor do que qualquer outro dia, seja o dia de trazer à nossa memória que temos um Deus de palavra, que cumpre o que promete na medida da sua imensurável fidelidade.
Talvez neste sábado, melhor do que qualquer outro sábado do ano, podemos contemplar coisas maiores e melhores do que a concretude de nossas próprias vontades e de nossos pensamentos mirabolantes.
Talvez o dia de hoje seja o dia em que deixaremos de lado nossos desejos e impressões acerca da história, nossa história ou a história de qualquer outro, e daremos de uma vez por todas o "direito" a Deus para que Ele se encarregue de nos comunicar a sua vontade.
Talvez hoje seja o dia em que Deus nos confundirá, nos retirará qualquer esperança suja, suja com nossas próprias ideologias e nos comunicará os seus próprios ideais.
Talvez hoje estejamos como os primeiros discípulos, que neste mesmo sábado, há cerca de dois mil anos, viram todos os seus sonhos messiânicos serem colocados dentro de um sepulcro e lacrados com uma rocha.
Talvez, assim como Pedro e os outros dez, estejamos inconformados com a maneira de Deus proceder, na maneira de Deus fazer as coisas, na maneira de Deus bruscamente acabar com a nossa visão de mundo, na maneira de Deus mostrar-nos que o Messias não seria um rei-militar-dominador, mas sim um servo-sofredor-morto.
Talvez hoje seja um bom dia para quebrarmos paradigmas e olharmos para Jesus e lembrarmos que em um sábado como este, sábado dito de aleluia, e em meio à morte de nossa vontade e visão de mundo, demos "Aleluia!", ou seja, louvemos e adoremos, sempre independentemente das situações que nos rodeiam.
Talvez hoje, muito melhor do que qualquer outro dia, seja o momento certo de depositarmos todas as esperanças em Deus, porque em um dia como este, o Messias Jesus de Nazaré, estava morto e enterrado, mas ao contrário dos primeiros discípulos, jamais podemos deixar passar pela nossa limitada mente, que embora o sábado após a morte do Mestre seja um sábado de pranto, o domingo da ressurreição está às portas.
Aleluia!
Pr. Carlos Magalhães
quinta-feira, 21 de abril de 2011
A Sexta-Feira da Paixão
A sensatez que é própria da fé em que nos encontramos nos diz que hoje não é um bom dia para celebração.
Hoje contemplamos.
Hoje olhamos profundamente para dentro de nós, olhamos profundamente para a história que se encontra há dois mil anos atrás de nós, olhamos profundamente para o madeiro ensanguentado.
Não celebramos, mas contemplamos a Paixão de nosso Messias, que por amor entregou-se apaixonadamente para ser sacrificado, morto sob a dura pena da humilhação integral. Um homem íntegro e perfeito, Jesus de Nazaré, foi brutalmente assassinado não antes de ser chicoteado, cuspido e escarrado, alvo de chacotas e pendurado em um madeiro mal talhado.
Seu sacrifício foi vicário, ou seja, o que faz as vezes de outro. O que faz as suas vezes e as minhas vezes. Por isso hoje não é dia de celebrar, mas dia certo para uma profunda reflexão sobre o Cordeiro Perfeito e Sem Mancha que Deus separou para que tomasse nosso lugar naquele momento de horror sem precedentes.
O Cordeiro se entrega. Abre os braços para a história e para os seus algozes afim de que morto pague a pena que estava imposta à todos nós.
Por isso, hoje nos importa olharmos, antes de tudo, para dentro de nós afim de contemplarmos a obra do Calvário em nossas vidas. Afim de que sintamos o sangue que escorreu daquela vida perfeita, por aquela madeira mal acabada, regar a nossa existência.
"O castigo que nos traz a paz estava sobre ele" é o que diz o profeta. E quantas vezes desfrutamos desta paz duradoura, verdadeira e confortante sem ao menos nos lembrar do castigo que a proporciona. A vida ao lado do Cristo, e este crucificado, é uma vida que não se cansa jamais de contemplar na cruz os meus próprios delitos e transgressões.
Naquela sexta-feira o Leão da Tribo de Judá cedeu lugar ao mudo Cordeiro de Deus. Naquela sexta-feira da Paixão, o Cordeiro de Deus não permitiu que você e eu tomássemos o nosso lugar de direito e foi imolado em nosso lugar.
Hoje, e sempre, contemple os seus "pecados castigados em Jesus".
Deus o abençoe.
Pr. Carlos Magalhães
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Santificados para transformar o mundo
Nós fomos feitos assim, para que zelássemos e co-participássemos de Sua criação (Gn 2:18, 19). Não é por menos que ao homem é dado o direito de nomear as criaturas no Jardim. Lembremo-nos que nomear é dar identidade e significado à existência na cultura hebraica, cultura esta em que se encontra a Bíblia Sagrada (p.ex. Gn 32:28).
Assim era o ideal de Deus para a Sua criação: harmonia entre natureza e homem, harmonia nos relacionamentos entre Deus e sua Criação e harmonia nos relacionamentos humanos, tanto do homem consigo mesmo, quanto do homem com o seu semelhante. Mas infelizmente esta harmonia foi quebrada quando o ser humano opta em desobedecer ao Criador sedendo às tentações da serpente que o levou a crer que o fruto da desobediência seria o homem ser como Deus. (Note que o homem já era imagem e semelhança de Deus) (Gn 3:1-8). Mas o que aconteceu é que não só a imagem e semelhança fora totalmente distorcida, como toda a Natureza se contorce diante do pecado de quem deveria zelar por ela. Agora crescem em nosso meio espinhos e abrolhos. (Gn 3:16-19) Crescem na terra, crescem em nosso coração. O mundo e tudo o que nele há acabou por ser “serpentizado” e Deus passa a buscar o homem que se perdeu em seus próprios delírios e fraquezas (Gn 3:9).
Por isso o sacrifício de Jesus é vital. É Ele quem nos reconcilia com o nosso Criador. (Ef. 2:13-16) É Ele quem silencia a morte ao ressuscitar de uma vez por todas, entregando aos que creem a esperança da vida eterna (1 Co 15:20). Em Jesus Cristo, os homens e a Natureza convergem novamente ao Deus Criador que anseia em esmagar a cabeça da serpente (Gn 3:15) e ter de volta, santa e imaculada Sua amada Criação.
Assim, Jesus funda nesta terra a Sua Igreja, como um sinal do Seu Reino de Justiça e Amor (Mt 16:13-20), Seu povo santo, como Deus é santo (1 Pd 1:14-16), separado do sistema serpentizado em que se tornou o mundo, desde a queda, e que por isso pode sempre sinalizar o caminho para a reconciliação de toda a Criação com o seu Deus (Rm 12:1,2). E Jesus envia-nos também o Espírito Santo, para nos santificar e nos preparar para sermos um sinal verdadeiro, digno e crível aos olhos dos homens (Jo 16:7-13).
Não é a toa que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche disse que “se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no redentor”. Deus quer um povo santo, separado por Ele e para Ele, um povo que não seja um paradoxo entre sua vida e a mensagem que ele carrega. Deus quer um povo legítimo que não envergonhe a mensagem que traz consigo (Rm 1:16). O Evangelho para a salvação é levado pela Igreja, mas antes de ser pregado, precisa ser vivido até as últimas consequências. Embora Paulo Apóstolo tenha dito, assertivamente, que o importante é que o Evangelho seja pregado (Fl 1:15), independente das intenções do pregador, não podemos jamais nos esquecer das Palavras do Cristo que nos chama a todos os dias tomarmos a nossa cruz, negarmos a nós mesmos e o seguirmos (Lc 9:23).
Santificados transformaremos o mundo. O que me faz lembrar do profeta Elias, que em contenda contra os centenas de profetas de Baal, sozinho provou que o único Deus verdadeiro é o Deus de Israel, mas não antes de purificar o altar que antes estava sendo usado pelos falsos profetas para invocar um falso deus (1 Re 18:30-32). Isso nos coloca sob o desafio de limparmos todos os “altares” de nossa vida, emocional, sentimental, material, enfim... para invocarmos a Deus com legitimidade de propósitos importa-nos estarmos limpos perante Ele que é santo e quer fazer de nós um povo santo.
A mensagem de convite a santidade não é apenas um chamado para o povo de Israel (Lv 20:7; 1 Pd 1:15, 16). Ela até hoje ecoa do trono de Deus para nos fazermos a cada dia mais parecidos com o Seu Filho, que em sua oração modelo, a oração do Pai Nosso, nos ensinou que antes de orarmos pedindo o perdão dos nossos pecados era fundamental que perdoássemos àqueles que nos haviam ofendido (Mt 6:9-15).
A santidade nos aproxima de Deus em amplo sentido, faz de nós pessoas mais parecidas com Ele, refletindo em um mundo de trevas o caráter lumioso que só Ele tem (Rm 8:29). A santidade nos separa dos sistemas “serpentizados” que dominam o mundo amado em que vivemos (Jo 17:11-20). A santidade nos possibilita uma vida evangélica sem hipocrisia que ama a Criação e busca imprimir o caráter santo e puro de Deus em todas as esquinas de todas as ruas das grandes cidades, em todo o interior verde e rural, em todo o rincão aonde a Natureza geme em dores de parto, esperando que nós, os santos, (Rm 8:19-22) cheguemos para, pelo poder do Espírito Santo (Jo 16:7-14), transformarmos as realidades que nos cercam.
Da mesma forma que Jesus, por onde andou, transformou de maneira incontestável ambientes totalmente entregues às forças do mal, como na vida do endemoninhado geraseno (Lc 8:26-34), assim também nós por onde andarmos temos como obrigação diante de Deus e de Seu Evangelho, que nos salvou nos libertando do cativeiro do pecado, de também transformar os ambientes em que nos encontramos. Bem disse Pedro acerca de Jesus, em seu sermão na casa de Cornélio, “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.” (At 10:38). Nós também fomos ungidos com o Espírito Santo da promessa, e é a nós que Deus espera para que todas os arranjos de maldade que dominam o mundo sejam desfeitos pelo poder do Evangelho. Prossigamos em santidade, para que assim vejamos a glória de nosso amado Deus, a partir de nossas próprias vidas, sendo canal de transformação do mundo em que vivemos. (Hb 12:14)
Deus o abençoe poderosamente.
Pr. Carlos Magalhães