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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Teologia das Cores


“E se amanha, as massas tiverem a impressão de que o cristianismo teve medo, que não teve coragem, de dizer a verdade, de mostrar a verdade, então, acabou-se o cristianismo.” Dom Hélder Câmara



Ir à casa do meu avô é sempre uma experiência linda.

Olhar suas paredes largas, brancas, com seus janelões cor de vinho, propositalmente confeccionados para que parecesse uma casa colonial portuguesa. No meio do pátio, há uma árvore que a tudo sombreia com suas milhares e milhares de folhinhas verdes e minúsculas. No chão, é sempre possível ver o que restou das migalhas de pães que há alguns minutos atrás fartaram a fome de pelo menos uma dezena de pardais amarronzados.


Certo dia me sentei ao lado do meu avô. De braços dados. Sua pele morena, seus dentes amarelados, seu rosto sulcado pelos anos que passam sem parar. Lhe pedi que me falasse um pouco sobre Jesus. Um pouco sobre o Espírito Santo.

Tudo muito simples. Tudo muito colorido.


Jesus de Nazaré, nos disse a toda a humanidade: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”

Não sou físico, nem tenho a pretensão de explicar os porquês da relação entre luz e cores. Mas uma coisa é simples demais para deixar de ser mais ou menos explicada. De algum modo a cor de um objeto é o resultado da absorção de demais cores e a não absorção da frequência de onda daquela determinada cor que ele tem.


Não vou mais me aventurar na ciência que eu não entendo. Mesmo, porque, provavelmente, a explicação acima esta, no mínimo, rala. Apesar disso, ela serve para ilustrar o que preciso me fazer entender.

De alguma maneira, a luz colore a vida. Sem luz, só haveria escuridão.

Um mundo sem cores.

Sem o amarelo da manga madura cortada para comer, sem o verde dos canaviais docinhos, prontos para açucararem o branco creme de leite, que em cima dos morangos vermelhinhos nos servem de sobremesa, mas que antes nos alimentam os olhos.

Sem a luz, não contemplamos a beleza do mundo. A pele negra do africano que se veste com tantas cores para celebrar a vida. As cores dos vasos de porcelana chineses. Os multicoloridos cocares dos nossos índios. As telas revolucionarias de Van Gogh.

Mas também sem a luz, nos tornamos cegos para o que de cinza há no mundo. Para a fome que bate nos vidros de nossos carros nos sinais de todas as grandes cidades brasileiras. Não vemos as trevas da religiosidade financeira que tira do povo o dinheiro de sua subsistência. Não conseguimos enxergar a realidade da maldade que nos rodeia de perto, muitas vezes cegando o nosso próprio coração.

A luz nos revela a verdade.

A verdade da beleza que está escondida muitas vezes sob as sombras que o mal teima em sombrear. A verdade da tristeza que o mal teima em acinzentar.

Mas, Jesus é a luz.

Quem O segue terá a luz da vida.

Foi Ele mesmo quem disse, no famoso Sermão do Monte, que nós, que o ouvíamos e praticávamos Suas palavras, eramos a luz deste mundo.

Luz para iluminar. Para revelar as cores da beleza e denunciar o cinza dos lugares que ainda não foram alcançados por essa Luz, que é Jesus.

Encontrando o nosso lugar em Deus, e todas as cores à nossa volta se tornarão mais nítidas

A Prainha, em Arraial do Cabo, tem o mar mais lindo e azul que eu já pude ver. Mas para alguém que não enxerga, não importa se aquela água é límpida ou não. Ela será gelada e salgada como a maioria dos mares desta costa do Atlântico.

Em Deus, a beleza da vida estará sempre ao alcance de nossa contemplação. A tristeza, por sua vez, estará ao alcance para a nossa intervenção.

As cores da existência, no final das contas, que nos revelam tantas verdades, que não seriam reveladas se não estivessem sob a Luz que é Jesus, Luz do mundo, Luz no mundo, Luz para o mundo, nos levam à ação.

As cores nunca nos tornam passivos diante da vida.

Ou as contemplamos por sua beleza.

Ou na vida intervimos, com aquarela na mão, fazendo do cinza, algo verdadeiramente belo. Verdadeiramente iluminado. Eternamente colorido.


Pr. Carlos Magalhães

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